Vozes silenciadas: injustiça epistêmica e estereótipos de gênero no Brasil

Autores

  • Luciana Caixeta de Andrade Faculdade Autômona de Direito - Fadisp
  • Julliana Souza Lacerda Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP - DF) https://orcid.org/0009-0009-7986-922X

DOI:

https://doi.org/10.5281/zenodo.15039431

Palavras-chave:

desigualdade de gênero, acesso à justiça, perspectiva feminista, transformação do direito

Resumo

Analisa a desqualificação da palavra da vítima feminina no sistema de justiça brasileiro à luz dos estereótipos de gênero e da injustiça epistêmica. A partir de autoras como Miranda Fricker e Alda Facio, a pesquisa explora as barreiras enfrentadas pelas mulheres para alcançar o acesso integral à justiça e demonstra como essas práticas discriminatórias comprometem a função social do sistema jurídico, que acaba por se tornar um instrumento perpetuador de desigualdades estruturais. Iniciativas como o Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero e o projeto Reescrevendo Decisões Judiciais em Perspectivas Feministas ressaltam como estratégias de transformação e demonstram como uma justiça inclusiva exige não somente mudanças normativas, como também educacionais e culturais. O estudo conclui que o reconhecimento das narrativas femininas é necessário para superar o androcentrismo jurídico e construir um sistema de justiça alinhado aos princípios constitucionais da igualdade e da dignidade humana.

Biografia do Autor

Julliana Souza Lacerda, Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP - DF)

Doutoranda em Direito Constitucional pelo Instituto Brasileiro de
Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa Brasília, Mestrado em Direitos Humanos pela
Universidade Federal de Goiás, Especialização em Direito Internacional e Criminologia pela
Universidade Federal de Goiás, Graduação pela Universidade Paulista, servidora do
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.

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Publicado

2025-03-17

Como Citar

Caixeta de Andrade, L., & Souza Lacerda, J. (2025). Vozes silenciadas: injustiça epistêmica e estereótipos de gênero no Brasil . Revista Goyazes, 2(1), 40–61. https://doi.org/10.5281/zenodo.15039431

Edição

Seção

Dossiê - Tutela da Vítima