Vítima ou thyma: haveria no ANPP um sacrifício à eficiência?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5281/zenodo.14982304

Palavras-chave:

Acordo de Não Persecução Penal, vítima, negócio jurídico, vitimologia

Resumo

A partir da análise crítica do Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), questiona-se se a adoção de tal instituto compromete as funções axiológica e ética da pena, sacrificando-as à ideia de eficiência processual. Essa reflexão se fundamenta na vitimologia moderna e na thymatologia, com ênfase na transformação do conceito de vítima, que deixa de ser mero objeto da pena para se constituir como sujeito de direitos. Destaca-se a importância da participação da vítima no processo penal, especialmente no contexto do ANPP. Embora o instituto seja justificado principalmente pela busca da eficiência e pela despenalização de infrações de menor gravidade, este artigo, por meio do método dialético-argumentativo, e a partir da revisão da literatura, problematiza o impacto de tal abordagem na reparação integral dos danos causados à vítima. Critica-se a visão que prioriza a eficiência processual, sugerindo que tal perspectiva pode propiciar a desconsideração da gravidade das infrações menores e negligenciar as necessidades reais e profundas da vítima, pessoa humana, cujos direitos e reparações não podem ser limitados a uma mera compensação material. Este artigo teve por objetivo reavaliar o papel da vítima dentro do modelo de justiça consensual, defendendo a necessidade de uma abordagem integral, que contemple tanto a reparação dos danos quanto a restauração do equilíbrio social. Propõe-se a defesa da participação ativa da vítima no ANPP, assegurando-lhe voz nas negociações, a fim de garantir a proteção de seus direitos e a efetividade da restauração via aplicação da Justiça.

Biografia do Autor

Liliana Bittencourt, Universidade Federal de Goiás

Graduação em Direito na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás. Pós-graduação em Direito Civil - Direito de Família na mesma instituição. Mestrado em Direito e Políticas Públicas pelo PPGDP da Faculdade de Direito de Universidade Federal de Goiás. Professora Auxiliar da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás desde 1996, lecionando Direito Empresarial I, II e III, Ética Profissional, Bioética, Lógica Perene e Direito, Direito através da Literatura e Leis, Contratos e Sociedade. Juíza Substituta em Segundo Grau, integrante do Poder Judiciário do Estado de Goiás desde 1990. Ex-integrante de Turmas Recursais dos Juizados Especiais, na Comarca de Trindade e na Comarca da Capital. Ex-titular do 4 Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Goiânia. Titular da 7 Vara Cível da Comarca de Goiânia de dez/2020 a jun2024. Juíza Substituta em Segundo Grau do E. TJGO. Pesquisadora em Direito Natural e Filosofia do Direito. Organizadora de Grupo de Estudos sobre Direito Natural. Membro do NEDNAT do Centro Universitário Ítalo - SP desde 2024.

Joan Victor Ramos Ribeiro, Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

Graduação em Direito na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás. Residente jurídico do E. TJGO.

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Publicado

2025-03-06

Como Citar

Bittencourt, L., & Ramos Ribeiro, J. V. (2025). Vítima ou thyma: haveria no ANPP um sacrifício à eficiência?. Revista Goyazes, 2(1), 21–39. https://doi.org/10.5281/zenodo.14982304

Edição

Seção

Dossiê - Tutela da Vítima