Feminicídio e vitimização indireta: a importância do reconhecimento e enlutamento na garantia de direitos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5281/zenodo.15046011

Palavras-chave:

feminicídio, vitimização indireta, acolhimento integral, vítimas secundárias, processo de luto

Resumo

Aborda a necessidade de uma mudança paradigmática para o reconhecimento de vítimas indiretas do feminicídio, suas necessidades e direitos. A reflexão é baseada no desenvolvimento e nos resultados do Projeto Lutos e Lutas, desenvolvido pelo Centro Estadual de Apoio às Vítimas – Casa Lilian no âmbito do Ministério Público de Minas Gerais. O projeto analisou casos de feminicídio e sua investigação e processo penal, com mapeamento das vítimas indiretas e realização de seus atendimentos integrais, além do tratamento das demandas. São alarmantes os dados do crime de feminicídio no Brasil e ainda pouco reconhecidos os impactos para as pessoas afetivamente ligadas às mulheres vitimadas. O compartilhamento dessa experiência evidencia de forma concreta os desafios impostos às vítimas indiretas e a importância de uma abordagem integral e interdisciplinar para o acesso aos seus direitos. As reflexões propõem a necessidade de aprimoramento do sistema de justiça e de políticas públicas mais eficientes, integradas e pautadas metodologicamente no reconhecimento e “em lutamento” para garantir os direitos das vítimas indiretas do feminicídio.

Biografia do Autor

Ana Tereza Giacomini, Universidade Federal de Minas Gerais/ Ministério Público de Minas Gerais

Pós-graduação lato sensu pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Promotora de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais. Coordenadora do Centro Estadual de Apoio às Vítimas

Rita Narciso, Université Paris Cité

Mestrado em Direito internacional e políticas do desenvolvimento na Université Paris Cité (Paris, França). Pós-graduanda em Direito Internacional e Direitos Humanos, pela PUC Minas. Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Estagiária de pós-graduação no Ministério Público de Minas Gerais.  

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Publicado

2025-03-18

Como Citar

Marques Resende, J., Ribeiro Salles Giacomini, A., & Narciso de Barros , R. (2025). Feminicídio e vitimização indireta: a importância do reconhecimento e enlutamento na garantia de direitos. Revista Goyazes, 2(1), 62–85. https://doi.org/10.5281/zenodo.15046011

Edição

Seção

Dossiê - Tutela da Vítima